domingo, maio 14, 2006

Carta de adesão do MPL-DF ao Movimento Passe Livre

***Carta aprovada na Assembléia do MPL-DF do dia 13 de maio de 2006

Adesão

O Movimento Passe Livre do Distrito Federal tem toda honra e alegria de, mesmo chegando atrasado na festa, aderir formalmente ao MPL-Brasil. Apesar de enviarmos a carta de adesão somente agora, participamos ativamente da construção do movimento nacional desde o Fórum Social Mundial de 2005, quando estivemos na Plenária Nacional do Passe Livre. Desde então temos participado das reuniões do GT-Nacional, discutido/deliberado sobre as resoluções nacionais do movimento e, à nossa maneira, dialogado com os outros MPL's no Brasil sempre que possível. Seguimos o calendário nacional de mobilizações proposto, realizando atos no dia 1° de abril de 2005 e também no dia 26 de outubro do mesmo ano. Participamos também do II Encontro Nacional do Movimento Passe Livre (ENMPL), sediado em Campinas em julho de 2005. Além disso, por fim, participamos da produção do jornal nacional do MPL tanto em sua parte de concepção editorial como também enviando um texto que compôs o mesmo.
Participar do movimento nacional para o MPL-DF é mais que integrar uma entidade com pessoas que congregam dos mesmos princípios e valores que os nossos. Acreditamos que podemos, com nossa experiência, gerar frutos efetivos para a transformação radical da sociedade. É estratégico pro MPL-DF construir nacionalmente um movimento que contribua na organização da luta popular anticapitalista.

Princípios

Quando começamos nossa ainda pequena movimentação local não esperávamos que tão rapidamente constituíssemos um movimento nacional que tivesse como pauta outro sistema de transportes. Por isso tratamos de, logo de início, organizar o movimento a partir de 4 princípios básicos: Autonomia, Horizontalidade, Apartidarismo e Politização. Nessa época entendiamos que os princípios da Autonomia e Apartidarismo dariam conta da nossa Independência. Colocamos, de maneira um pouco ousada, uma forma organizativa como princípio político - sabendo que essa confusão mais resolveria problemas que traria - e pensamos a "Politização" como um meio de não nos restringirmos à nossa luta específica - ainda não eramos tão ousados/as ou maduros/as para afirmarmos publicamente nossa posição anticapitalista. Queriamos construir - e construimos - um movimento diverso que abarcasse diferentes pensamentos da população.
A partir do convívio com os outros MPL's, na construção do movimento nacional, avançamos em algumas posições. Obviamente a independência entrou em nossos princípios. O anticapitalismo veio substituir a politização. A disposição de frente única era semelhante à nossa diversidade. Tiramos como deliberação interna do movimento que militantes de partidos são mais que bem vindos no movimento, desde que não participem das instâncias do mesmo organizados como bloco. Utilizamos ao extremo a metodologia de delegações para organizar nossas atividades e distribuir responsabilidades. Concordamos com o pacto federativo entre os diferentes MPL's espalhados pelo país, desde que sejam respeitados os princípios nacionais e haja autonomia local na organização das lutas. Referendamos então os princípios nacionais do Movimento Passe Livre.

História

A história do MPL-DF está, em parte, narrada no artigo que escrevemos para o jornal nacional lançado no dia 26 de outubro de 2005. O artigo segue abaixo, em anexo. Trataremos então de narrar, aqui, tanto os fatos recentes como também algumas questões mais orgânicas que não estão contempladas na matéria.
O MPL-DF surgiu por meio de trabalhos de bases nas escolas. Fizemos atividades de agitação, panfletagens e etc chamando estudantes para um primeiro ato, no dia 25 de outubro de 2004. Mais de 80 pessoas compareceram e a partir de então começamos a nos reunir para organizar o movimento aqui - na época era algo como "comitê autônomo de lutas pelo passe livre". Organizamos uma lista de e-mails (que hoje tem 535 inscritos/as), continuamos a passar nas escolas e fazer mini-atos, acumulando forças. Nossas assembléias, as vezes semanais, as vezes quinzenais, contavam sempre com um elevado número de pessoas. Estávamos na promessa.
No começo do ano de 2005 fizemos novamente uma intensa divulgação do MPL e chamamos estudantes - principalmente secundaristas de escolas públicas - para a reunião de lançamento do movimento no ano de 2005. A reunião, que ocorreu no meio de março, contou novamente com cerca de 80 pessoas. Lá deliberamos algumas coisas sobre a organização do movimento durante o ano e marcamos o dia do nosso próximo ato (que foi em 1° de abril, chamado "a mentira dos transportes" e contou com aproximadamente 200 pessoas).
Ao mesmo tempo iniciamos, além das atividades de base, articulação com sindicatos e movimentos sociais. Fomos à plenária de formação do Movimento dos Trabalhadores Desempregados - MTD-DF, hoje nosso "movimento irmão" na cidade - nascemos no DF quase na mesma época e sempre tivemos ótimas relações. Com sindicatos a coisa caminhou bem até certo ponto, mal em outros, mas caminhou. Ainda encontramos dificuldades até hoje no trato com setores razoavelmente burocratizados da esquerda, mas não deixamos de dialogar. Participamos também da recepção da marcha do Movimento de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra - MST, no mês de abril. Lá, além do movimento - com quem dialogamos até hoje-, conhecemos diversas outras entidades com as quais tivemos algum contato.
Logo após a marcha, iniciamos uma jornada de lutas contra o aumento das tarifas, que durou de junho a setembro. O aumento, que estava programado pra julho, foi adiado. Para conhecer um pouco mais desse intenso período conferir o compilado de links <http://www.midiaindependente.org/pt/blue//2005/08/328194.shtml>
Passada a jornada de lutas iniciamos tanto um trabalho de articulação do movimento em Grupos de Trabalho como também nos preparamos pro ato do dia 26 de outubro. O ato foi para entrega simbólica do nosso projeto de lei por iniciativa popular, que institui o passe livre estudantil universal, irrestrito ou, como melhor fala um militante do movimento "sem distinção de quando, onde ou porquê!" O ato do dia 26 ocorreu na mesma época da Assembléia Popular - Mutirão por um novo Brasil - evento que auxiliamos na infraestrutura.
Passado o ato do dia 26 começamos a nos preparar para reorganizar o movimento, já que haviam uma série de coisas a serem discutidas (mas que não haviamos conseguido discutir pelo aperto de atividades). Aí veio, enfim, o aumento de tarifas, pegando de surpresa à quase toda população do DF. Empreendemos uma enorme jornada de lutas que ainda está por ser relatada. Cremos que vocês acompanharam... Se não, além dos aquivos do site do CMI-Brasil <http://www.midiaindependente.org> vale dar uma conferida no nosso blog <http://www.vidasemcatracas.blogspot.com>
Por fim, atualmente estamos discutindo questões orgânicas do movimento, além de nossas relações com outros grupos próximos da cidade. Além disso existem uma série de outras questões que não relatamos (como a história da nossa relação com partidos, nossos problemas internos, enfim...), mas que ficam pra outra conversa. Acreditamos que esse relato seja suficiente para darmos uma visão geral do movimento. Um outro ponto que vale ser falado eh que nossas reuniões, desde o meio de 2005, são semanais: todos os sábados às 15 horas. Atualmente temos feito discussões relativas à nossa reorganização interna, etc.

Finalizando

Por fim, apresentamos nossa disposição de construir o movimento nacionalmente. Participaremos sempre que possível das atividades nacionais assim como também nos esforçaremos por sempre trazer novas idéias ao movimento e mantê-lo ativo na luta popular.
Paz entre nós, Guerra aos senhores!!

Por uma vida sem catracas, MPL-DF

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Anexo - Texto do MPL-DF no Jornal do Movimento Passe Livre Por uma vida sem catracas - MPL-DF

A luta social nos espaços urbanos nunca foi tarefa fácil para quem quer se organizar como corpo militante de juventude numa perspectiva de longo prazo. No caso do Distrito Federal – sem tradições de organização popular para a luta duradoura, seja por sua constituição geográfica ou por ter nascido para ser um órgão burocrático – a situação se torna ainda mais complexa. A experiência do Movimento Passe Livre, contudo, trouxe avanços a esta questão nacional e localmente. As experiências de Salvador e Florianópolis foram instrutivas tanto sobre a forma horizontal e descentralizada de disseminação da luta como por sua estrutura orgânica, que permite uma leitura coletiva e politizada da realidade, superando sectarismos partidários.
No DF o crescimento e fortalecimento do MPL têm superado as expectativas. Dia 25/10/04 (da criação do então Comitê pelo passe livre no DF), poucas eram as esperanças de que aquela luta ganhasse a força e a expressão que tomou. Pensávamos que o passe livre fosse mais uma ferramenta de organização de setores da juventude do que um efetivo instrumento político urbano. Porém a luta imersa na coletividade (sempre ela) impulsionouinúmeros militantes ao seio do movimento. Pequenas manifestações, simplesmente por seu caráter de ação direta, sua cultura de organização autônoma, além de sua organicidade crescente foram suficientes para que todos e todas as envolvidas solidificassem o movimento.
Após a 1ª Plenária Nacional pelo Passe Livre (Porto Alegre, janeiro de 2005), além da certeza da relevância da luta local, saímos com uma organização nacional em construção - o Movimento Passe Livre. Assumimos essa tarefa no DF realizando logo em seguida uma mobilização com cerca de 200 estudantes. Estava lançado o MPL-DF, que iniciou atividades de catracaço, panfletagens, debates em escolas etc. A juventude individualista e desacreditada do Distrito Federal tomou para si não só a responsabilidade coletiva de organização de um movimento específico, mas também a da inserção na luta de classes de maneira realmente transformadora.
Mais que nos organizarmos, passamos por provas à efetividade na mobilização social. Em processo de um iminente aumento das tarifas no DF, o MPL realizou entre junho e agosto de 2005 uma intensa jornada de mobilizações (agora com mais de 500 pessoas). Ocupamos órgãos públicos (DFTRANS e ANTTAgência Nacional dos Transportes Terrestres), construímos blocos carnavalescos e levamos à sociedade a possibilidade efetiva de mudança da realidade através da luta.
A despeito do empresariado dos transportes e do Governo do DF, as tarifas rodoviárias do Distrito Federal não aumentaram, em favor do povo e por meio de sua ação. O Movimento Passe Livre do Distrito Federal mostrou sua força, vitalidade e capacidade de formulação em meio a situações adversas; lançou-se à sociedade trazendo a perspectiva de construção de um transporte urbano efetivamente popular; constituiu um referencial de ação urbana coletiva, politizada, de enfrentamento. Deparamo- nos com uma intensa repressão policial que foi incapaz de nos intimidar intimidar e avançamos uma vez mais sobre as estruturas do Estado. Iniciamos agora uma jornada pelo passe livre, com nosso acúmulo de forças e ânimo renovados. "Toda hora é hora/ todo local é local para mobilizações e quem organiza é você".
Certos grupos criticam o MPL-DF afirmando que somos um movimento restrito e sem formulações gerais. Nossa resposta, ao invés de galgar mais espaços letrados, vem principalmente em mobilização. Os referenciais organizativos e táticas que criamos constantemente influem, dialogam, contagiam os diversos setores da sociedade e nossa luta se multiplica. Seja em coletivos (de mídia independente, de solidariedade zapatista, do movimento anarcopunk, da luta feminista, do movimento LGBTT, de arte militante, do movimento negro, de torcidas organizadas, de escolas livres, de associações de skatistas, de movimentos culturais), ou em organizações outras, aquelas/es que imaginavam que nossa pauta era específica a um setor da sociedade começam a perceber que os referenciais de luta que estamos criando apontam não só para um novo sistema de transportes, mas também para uma outra sociedade.