segunda-feira, maio 28, 2007

*Usaremos o símbolo “@” a fim de causar inclusão de gênero!

Car@s compas,

Motivos não nos faltam para estarmos aqui hoje, prestando a nossa solidariedade à luta d@s Metroviári@s. O simples fato de estarmos tod@s vivendo em um sistema que tenta nos oprimir e nos condenar já seria motivo para nos apoiarmos uns/umas aos/às outr@s. Somos tod@s pessoas comuns, que buscam a cada dia o necessário para viver, e isso também já seria o suficiente para nos unirmos. Mas há algo além de tudo isso: estamos tod@s na mesma luta, a luta por um mundo livre e por um transporte justo.

E porque o transporte? Nós, do Movimento Passe Livre, sabemos que a nossa sociedade não funciona sem ele e por isso não achamos justo que o transporte seja fonte de lucros inesgotáveis para alguns poucos empresários, que rodam a cidade em seus carros de luxo(***). Como podem estas pessoas, além de mandar no sistema de transporte, se beneficiar quase que totalmente dele? Ainda mais por cima da população usuária, que paga as tarifas absurdas, e d@s trabalhador@s que fazem o sistema funcionar!? É a evidência de nossa espoliação!

Para nós do MPL, não faz sentido comercializar o direito de ir e vir, assim como não faz sentido que @s trabalhador@s do transporte tenham seus esforços desvalorizados e suas necessidades concretas não atendidas por baixos salários e péssimas condições de trabalho. E que sentido faz, afinal, aquel@s que, cotidianamente, se utilizam do sistema de transporte e aquel@s que os fazem funcionar, trabalhando nele, terem retiradas de suas vidas a gestão desse sistema? Esta exclusão é sem dúvidas a causa de nossa exploração, de nossa alienação! Esta é a condição que nos obriga a lutar, protestando enquanto usuári@s ou em greve d@s trabalhador@s!

E o que se vê frente as nossas legítimas reivindicações? Frente às pautas d@s metroviári@s?

Auxílio alimentação, abertura de concursos públicos, aumento salarial, plano de carreira, atenção à periculosidade do trabalho etc., são tratados com descaso pelo Governo e a empresa do Metrô. A Luta por respeito e dignidade da categoria, encontra como resposta lançada pelas mãos direitas dessas autoridades, ataques e ameaças como: a privatização do setor, demissão de empregad@s, corte do ponto dos dias em greve, desmoralização do direito a greve. Não o bastante, tem-se o bombardeio das mídias burguesas em opor a Luta d@s trabalhador@s metroviári@s contra @s usuári@s, enquanto escondem os verdadeiros motivos da Luta e suas condições de trabalho, que são justamente contra as medidas dos patrões e governantes!

Mesmo que atendidas parcialmente as suas reivindicações, as conquistas obtidas não foram simplesmente dadas; foram resultados dos esforços próprios da classe em Luta direta na greve! Isso mesmo comprova nossa força quando nos mobilizamos, quando exigimos o que é nosso por direito! O poder do povo é demonstrado quando há paralisação de um serviço como os de transporte público: caso contrário será que os poderosos lançariam sua ira em formas de ameaças se seus interesses particulares não estivessem sendo diretamente afetados!?

Não podemos nos deixar enganar: a mão que finge que dá é, na realidade, a mão que nos bate! Diferente desta, nós do Movimento Passe Livre estendemos nossas mãos com respeito e solidariedade sinceras às Lutas d@s metroviári@s, para somarmos esforços em erguermos juntos nossos punhos contra a exploração dos patrões e governantes! Estaremos presentes no que for necessário: fechar vias, mobilizar a população, pressionar as autoridades, criar espaços de diálogo entre trabalhdor@s e usuári@s dos transportes, enfim, caminhando ombro a ombro por nossa emancipação. Acreditamos em nossa união, pois dela virá nossa vitória! A greve da categoria pode ter terminado, mas a Luta não pode parar!


Em solidariedade,
Movimento Passe Livre DF.
POR UMA VIDA SEM CATRACAS!

terça-feira, maio 15, 2007

Tarifa Zero! A realidade possível.


Quando um sistema entra em crise, todas as saídas paliativas não passam de remendos históricos, que logo rebentarão diante do rio caudaloso da História. E diante de uma situação de crise de um sistema, cabe àqueles que sempre o contestaram indicar claramente quais são suas perspectivas estratégicas, seu sistema substituto. Ou seja, um sistema que seja condizente com seu momento histórico, e com as necessidades da sociedade que dele se utiliza.


Florianópolis viveu dois momentos de profunda radicalização na cidade, em 2004 e 2005. Duas revoltas intensas, de semanas de duração, enfrentamento, e violência Estatal, com prisões arbitrárias, utilização de armamento ilegal, etc. Essas revoltas ocorreram como expressão do desgaste, da “falência” – não no sentido financeiro, mas social e moral –, do Sistema de Transporte Coletivo Urbano.


Elas expuseram uma contradição fundamental e insustentável: a necessidade de um transporte coletivo público e voltado para os interesses do desenvolvimento da sociedade, das forças produtivas em geral, e a realidade de um sistema falsamente “público”, controlado por famílias oligárquicas e atrasadas – ou mesmo por grandes corporações internacionais –, e que se pautam fundamentalmente pelo lucro, e não pela res pública. Ou seja, o transporte coletivo é visto como um grande mercado, uma fonte de apropriação de fatias gordas do orçamento das famílias, uma fonte de poder econômico e político. E como tal, interessa que esse sistema seja mantido para esses mesmos grupos.


Acontece que na sociedade existe luta de classes. Que nessa contradição há interesses opostos, e que toda exploração tem seu grau de limite. O dos transportes públicos chegou.



Além das históricas Revoltas da Catraca, em 2004 e 2005 em Florianópolis, a Revolta do Buzú em Salvador, em 2003, e revoltas similares que derrubaram ou contestaram tarifas em Vitória (ES) 2005, Uberlândia (MG) 2005, Criciúma (SC) 2005, Fortaleza (CE) 2005, e Recife (PE) 2005, mostraram que essa é uma onda inevitável. Nesse momento Bras
ília (DF) e Aracajú (SE) estão em lutas contra aumento de tarifas nos transportes urbanos. E essa onda não vai parar, pelo fato concreto de 38 milhões de brasileiros não terem acesso aos transportes em virtude de suas tarifas, e desse número crescer a cada tentativa de novo aumento nos preços.


Existe solução. Ela dependerá de uma combinação bem sucedida de fatores: mobilização popular, concepção estratégica de um modelo de sistema de transportes, e direção/determina
ção política em aplicá-lo. No que diz respeito à direção política, confirma-se depois de um ano que a determinação da dupla Berger/Stroich é a de fazer linha de frente para os empresários do setor. Suas declarações recentes sobre a tarifa única demonstram isso. Darão a tarifa única como único recurso para aumentar as tarifas dos seus iguais, os empresários. Do ponto de vista da mobilização popular, há uma expectativa bastante positiva, como saldo de duas vitórias consecutivas (2004/05), e da grande demonstração de força da população nas duas revoltas. Do ponto de vista do modelo, cabe fazer a ampla discussão na sociedade. Nossa determinação é a de ousar. Pensar o transporte como serviço público essencial. O transporte coletivo deve ser retirado das mãos da iniciativa privada, como fator fundamental para superar a pauta da lucratividade, que é a questão essência que exclui milhões de pessoas do transporte. O transporte deve ser gerido pelo poder público, municipalizado, voltado para os interesses da coletividade, e pautado numa outra forma de financiamento.


Ou seja, é preciso pensar numa nova forma de tributação que onere os setores que verdadeiramente se beneficiam do funcionamento diário do transporte coletivo, e não os usuários. Os setores que se beneficiam são os
grandes industriais, as grandes empresas de comércio, os detentores dos grandes meios de produção e de circulação de mercadorias. A inversão da lógica “do paga quem usa, para o paga quem se beneficia” é um instrumento importante de democratização do acesso ao transporte coletivo.


Com os impostos que o povo brasileiro paga – um dos maiores do mundo –, com o que pagamos de juros, com a distrib
uição esdrúxula de renda que possuímos, com as opções políticas que isentam os empreendimentos milionários – como o “Costão Golf ” no Santinho – não há dúvidas de que é possível pensar num transporte coletivo público, gratuito e de qualidade, exatamente como deveriam ser a educação e a saúde. É possível fazê-lo! Tarifa Zero, uma das concepções estratégicas do nosso modelo de transportes!

pOr: marcelo pomar, militante do MPL-Floripa; escrito em janeiro de 2006.