terça-feira, fevereiro 07, 2012

Umas palavrinhas para começarmos bem essa semana (e esse ano, e essa mês, e mais essa luta) ou Relatim do Mutirão do Tarifa Zero do MPL-DF


Por Leiloca


Esse último sábado (04-02) amanheceu ensolarado, de um jeito que costumava ser raro em Brasília nessa época. Eu mesma acordei já meio correndo pensando em como é que eu ia fazer uma mágica com o tempo que perdi enrolando e o compromisso que fiz com o Movimento Passe Livre de levar o almoço pro nosso mutirão de materiais para a campanha do Tarifa Zero há tempo.

Entre corridas em supermercados, dúvidas prática como não saber quanto comprar de cada ingrediente (quantas pessoas vão? Essa dúvida sempre no ar..), lembrar que não tínhamos talheres ou pratos, ver o relógio girar, continuava sábado de manhã, e eu sentia uma coisinha meio inexplicável, um certo comichão ....

Superado o primeiro desafio, o das compras, eu e meu companheiro (de cozinha =) começamos a nos virar pra picar cebola, alho, cenouras, salsichas vegetais ( e eu tinha esquecido elas! Saí de novo pra comprar...), beterrabas, abóboras, pimenta de cheiro, cozinhar o feijão... tudo pr

a ver se saía a feijoada vegetariana que tínhamos prometido. Enquanto nos dedicávamos a ter a maior agilidade possível com as facas, conversávamos sobre os planos para aquela tarde: stencil, cartazes, vídeos, produções de textos pra essa campanha que já tentamos iniciar tantas vezes. Dávamos umas risadas também de querer fazer tudo isso num sábado a tarde depois de comer feijoada.

O tempo, é claro, num foi muito legal com a gente, e chegamos bastante mais tarde do que o combinado. E, mesmo chegando tarde, éramos poquinhxs, aquelx mesmxs de sempre que estávamos ali naquela sala.... Por um momentinho, confesso, pensei naquela quantidade de feijoada, no esforço e nas tantas vezes que já me frustrei nesse caminho que tentamos construir.

Mas, vai, foi por um momento só. Pouco a pouco as pessoas foram chegando, comendo, conversando e se aprochegando da ideia de, de fato, puxar uma campanha pelo Tarifa Zero, por outra cidade, por outra sociedade, contra essa porra toda, tudo!

E aí eu re-entendi (porque eu já entendi e desentendi essa sensação muitas vezes na minha vida) o que era aquele comichão. O comichão que, de uma maneira ou de outra, eu acho que levou a todxs nós naquela salinha no conic em pleno sábado de quase carnaval. É esse comichão do começar outra vez, do trazer novo gás pra um velho projeto, e, principalmente, de continuar trilhando o caminho desse tal mundo novo que queremos construir.

Tá, tá. Grande construção de mundo novo essa aí. Uma galerinha reunida numa sala, invi

síveis, acompanhadxs de algumas ideias conspiratórias e muitas risadas, além de um pagode e uma coreografia aqui e ali. Qual foi o resultado concreto para superação dessa sociedade capitalista- racista- machista -homofóbica- especista -do mal que vivemos? Um stencil, um cartaz, uma porção de cartas e solidariedade? Aonde? cade ? quando?

Isso aí é parte do batalhão de questionamentos que receberei por ousar escrever um texto otimista como esse. Ao contrário do que provavelmente me acusariam, eu nunca responderia que o mais importante são as relações que criamos, que a micro - política é nossa maior e principal prioridade, que o legal é sermos mesmo amigxs, que o que muda tudo é a força do amor. E também não acho, apesar de as vezes ter saudade dessa ingenuidade, que só com mais um montão de eventos como aquele a tarifa zero vai chegar ai, a cidade vai mudar e o mundo vai ser colorido e autogestionário. Em outras palavras, eu acredito em luta de classes, em guerra anti - racista, em ação direta contra o patriarcado e a homofobia, no enfrentamento, revolução verbal ou aterrorizadora ( e tenho raiva de quem não acredita).

Meu comichão, ele vem daí. Como um compa muito querido me ensinou certa vez, coisas novas estão florescendo todos os dias, gente legal tá começando a revolução nos mais diversos lugares a todas as horas, por mais que não saibamos, por mais que não estejamos vendo. E é esse montão de coisas, pequenas a princípio, invisíveis aos olhos de quem está acima, que aos poucos se transformam naquela força que é impossível de conter e de apagar da memória de quem conheceu qualquer mínima expressão dela.

Caminhando pé ante pé em cima das nossas mais diversas ( e conhecidas) contradições, o tal do comichão era só a certeza que essas coisas, elas começam em sábados de sol como aquele.


(ou seja, valeu galera, vamo que vamo).

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