Algumas considerações sobre a breve porém poética existência do
Exército Revolucionário e Insurgente de Palhaç@s (ERIP).
Exército Revolucionário e Insurgente de Palhaç@s (ERIP).
No começo do ano, a população do DF foi surpreendida por um repentino e injusto aumento, um tanto quanto estratégico para os empresários e magnatas dos transportes, afinal o único movimento que discute transportes no Bra$il e que possivelmente faria(como fez,hehehe) algo contra isso, o Movimento Passe Livre, querendo ou não, é um movimento majoritariamente estudantil e o que a elite dos transportes previu foi que estaríamos totalmente desestruturadxs, afinal era período de férias estudantis. Em uma semana, aos trancos e barrancos, fazendo o possível e impossível para que o máximo de pessoas participasse, organizamos o ato que ficou marcado pelo que a mídia tachou como violência, mas que a meu ver não passou duma reação um tanto quanto esperada pra uma população enfurecida com os transportes, que vale ressaltar, em anos em Brasília não se viam mobilizações relativas ao mesmo, a suas condições, a suas enormes tarifas,até em 2004 o Movimento Passe-Livre iniciar suas atividades.
No dia 06/01 aconteceu este ato, onde a fúria da população fugiu totalmente ao nosso controle (quando digo “nosso” controle não nos coloco como vanguarda desse ato, mas apenas coloco isso, pois tínhamos puxado esse ato), que resultou em vários ônibus quebrados e mais de 2 horas de confronto com a polícia. Havíamos feito um ato contra a redução das tarifas, mas as tarifas não baixaram com esse ato e tínhamos plena consciência que era apenas o início e que ainda tinha muita luta pela frente. Durante toda a semana seguinte ao dia 6, organizávamos o segundo ato dessa jornada de lutas sabendo que a polícia não se encontraria mais desestruturada e surpreendida como na primeira manifestação, como também não seria qualquer polícia, mas a polícia de Brasília, que é possivelmente das mais bem preparadas e numerosas do Brasil.
Durante boa parte das longas assembléias que se seguiam viemos mantendo que se a conduta da polícia fosse violenta também seria a nossa, mas em dado momento nos colocamos a indagação de que se reagíssemos violentamente possivelmente não conseguiríamos ir muito além com o ato e talvez dificilmente geraríamos o distúrbio que pretendíamos gerar, que era bloquear vias, enfim, parar a cidade.Decidimos então por fazermos uma manifestação aberta e explicitamente pacífica de forma que pudéssemos manter nossa conduta de ação direta sem que a polícia(que como dito antes, tínhamos certeza que estaria numerosa e organizada) pudesse reagir de maneira agressiva. Mas como conseguir isso?
Foi citado por algumas pessoas ao longo das assembléias que tivemos nessa mesma semana que dificilmente a polícia atacava aos manifestantes que estavam na batucada/animação da manifestação, possivelmente por que a mesma não entendia essxs como ameaças, percebemos então que era necessário que essas pessoas responsáveis pela animação tomassem a frente da manifestação, de forma que dificultassem com que a polícia avançasse contra os manifestantes, para que nossa intenções pacíficas ficassem mais explícitas possíveis, faltava algo mais e para isso decidimos por em prática uma antiga proposta de um companheiro, que inspirado no Exército de Palhaç@s da Europa, propôs que criássemos um aqui. As pessoas que se dispuseram a participar disso; e que vale dizer, em grande maioria estavam tendo suas primeiras experiências como palhaç@s; se reuniram e prepararam o que foi uma carta na manga para nossa atuação no ato que aconteceria. É interessante observar que em momento algum durante a organização desse ato, passou pela nossa cabeça abdicar de fazermos ações diretas, de gerarmos distúrbios pra demonstrar nossa indignação com esse abusivo aumento .
E no dia 13/01 essa manifestação aconteceu, num dos momentos que talvez tenha sido dos momentos que mais me proporcionou arrepios, parafraseando um grande amigo “a época mais romântica da minha vida”. @s palhaç@s trouxeram àquela manifestação um clima ímpar, diferente de várias manifestações, por que por mais que o mpl sempre usasse de artefatos artísticos/culturais em suas manifestações, nessa por um momento de urgência esse artefatos haviam se tornado a maior de nossas armas. Como dito na primeira carta do exército(em anexo a este texto), tínhamos confetes e serpentinas pra enfrentar bombas de efeito moral e cassetetes e por mais que não pareça sabíamos que seria a forma mais eficaz de enfrentamento.
A grande jogada do exército de palhaç@s nesta manifestação, e foi isso algo que observei posteriormente, que acabou que aquel@s palhaç@s tiveram para a polícia naquele momento, uma representação semelhante a que tem o policial que aborda alguém na rua de maneira violenta, da mesma forma que a pessoa que é abordada pelo policial não pode reagir a suas agressões, dificilmente a polícia reagiria de maneira agressiva àquilo que era notavelmente uma ironia, uma agressão moral, pois seria algo que soaria um tanto quanto ridículo para a imagem da polícia, imaginem a seguinte manchete no jornal: “Polícia prende 20 palhaç@s em manifestação contra o aumento das tarifas”. Foi isso que também dificultou com que a polícia impedisse nossos distúrbios, além de clarear ainda mais algo que já tínhamos certa noção, nossa principal arma para os atos de rua era a surpresa, sempre teríamos que ter cartas na manga, o exército de palhaç@s e sua existência em si foi a primeira, posteriormente algumas de suas ações foram outras. Observo que o exército de palhaç@s dificultou ainda mais minha diferenciação entre o brincar e o revolucionar, por que muitas vezes quando queremos sintetizar em linhas tudo aquilo que acreditamos, acabamos por virar gravadores que apenas repetem jargões politizados e acabamos por desprezar espaços que se mostram um tanto quanto úteis na
prática.
Tantas vezes colocamos o ato de brincar como uma coisa boba e carregada de futilidades, sempre temos que separar uma coisa da outra, como se a atividade revolucionária fosse uma parte de nossas vidas, mas não algo que se mistura de forma quase que homogênea com nossas vidas. O ERIP mostrou-nos como nossa infância não foi algo que passou em vão e lembrou-nos um pouco que todo mundo deveria ter infância, que nem sempre a luta , os distúrbios são coisas tensas, mas que os mesmos podem ser incrivelmente divertidos, chegando a nos causar arrepios e não deixam de ser distúrbios.
O ERIP continuou existindo durante toda essa jornada de lutas, onde teve várias atuações memoráveis, como no dia em que o ERIP amenizou o clima duma manifestação que estava demasiadamente tensa no Paranoá(cidade-satélite aqui do DF), entre algumas outras atuações, posteriormente o ERIP se desligou do MPL tentando formar-se enquanto um grupo, lentamente o ERIP foi esfriando, acabando por adormecer mas com uma última e interessantíssima ação, que foi um beijaço em frente a uma Igreja de importância histórica do DF, em repúdio a recentes fatos de intolerância acontecidos no país e no mundo
Sobre @ Palhaç@, sua atuação política e nossas influências
para a formação dum clownismo radical,ativo e insurgente.
@ palhaç@ existe como uma expressão daquilo que é considerado ridículo e engraçado, o jeito desengonçado de andar, o jeito engraçado e na maioria das vezes desaforado de falar, as duplas de clowns que nos divertem com suas atrapalhadas confusões, a forma desengonçada que @ palhaç@ executa a demais artes circenses e a música, entre tantas outras coisas. Quando você cria um/uma palhaç@ , não está criando uma personagem, mas talvez uma outra faceta do seu eu, por isso que digo que @ palhaç@ é essencialmente libertária,por mais que nem sempre seja encaminhado nessa direção, pois trabalha muitas vezes com que libertemos vários “ridículos” que a medida que fomos crescendo foi-se esvaindo juntamente a nossa infância, da mesma forma que nos permite com que satirizemos e ridicularizemos com muito mais facilidade aquelas coisas que realmente nos soam como ridículas. Essa outra faceta do seu eu apesar de se comportar, se vestir, falar, andar de maneiras diferentes a suas usuais não deixa de ser essencialmente você, ou seja sua visão de mundo está inerentemente ligada a visão de mundo do
seu/sua palhaç@. O exército de palhaç@s talvez tenha sido essa outra faceta dentro da própria jornada de lutas, talvez a falta de prática que a maior parte de nós tinha enquanto palhaç@s impossibilitou com que desenvolvêssemos bem noss@s palhaç@s individualmente, mas de forma coletiva conseguimos explorar bastante a nossa existência enquanto palhaç@s.
Coletivamente posso analisar vários dos efeitos causados pelo exército de palhaç@s, primeiramente a surpresa por si só, como já mencionado anteriormente, além de diversas outras coisas, como as vezes em que o exército de palhaç@s amenizou o clima de algumas manifestações que estavam um tanto quanto tensas, a própria ironia para com a polícia, que mesmo não estando ali para combatermos diretamente a ela, a entendíamos como braço repressor do estado que tentávamos pressionar, logo ela é nossa inimiga. A ironia muitas vezes funciona melhor do que qualquer pedrada, o orgulho deles foi um tanto afetado por aquel@s que estavam ali dispostos a enfrenta-los sem nenhum poder de fogo. Também vale mencionar que o exército de palhaç@s por si só, enquanto coletivo se tornou um personagem do imaginário criado em cima daquela jornada de lutas.
Sobre nossas influências fica difícil delineá-las de forma clara, por sermos um grupo de jovens e em sua maioria de formação política e cultural anti-capitalista, autônoma, abaixo e a esquerda, poderia citar várias prováveis influências mas sem a menor ambição de querer nomear ou conceituar aquilo que foi feito pelo ERIP, inclusive por que não considero isso necessário, de conceituar aquilo que fizemos, pois isso restringiria a discussão sobre nossas influências que considero um tanto quanto vastas e variadas. Pra começar a falar sobre nossas influências teria que primeiramente dizer que consensualmente no grupo não existe uma linha que separe política de arte/cultura, que essa linha e distinção é normalmente dada pelos meios de produção da máquina capitalista. Que não só não fazíamos essa distinção como éramos pessoas com a particularidade de termos uma afinidade com esse tipo de atuação político-artístico-cultural. Para isso poderia dizer que grande parte do que nos inspirou em nossas leituras e aprendizados e nos deu sede de por em prática foram as histórias de grupos inerentemente jovens que atacaram a lógica social principalmente por vias culturais, aliás é interessante que essa forma de ataque já é um traço cultural da juventude, em seus questionamentos políticos, vários dos movimentos jovens anti-capitalistas autônomos de contestação surgem de maneira que não se pode traçar uma linha que divida a atuação política da atuação artística/cultural, para isso podemos citar os provos holandeses, o punk, em sua vertente mais politizada e séria, os squatters (ou kraakers .BZs, okupas), o classwar nos anos 80 na inglaterra, O CIRCA (Clandestine Insurgent Rebel Clown Army-Exército Clandestino,Insurgente e rebelde de Palhaç@s ) entre tantos outros. Para tantos grupos podemos observar inúmeras diferenças e particularidades, mas certas coisas são observadas em todos, como ousadia, a criatividade como arma e ao mesmo tempo como “tentativa e erro”, ou seja acaba que as análises serão diversas, por diferentes e distantes óticas, mas que independente das nomeações ou mesmo das conceituações sempre identificaremos práticas em comum nesses movimentos, que buscam de maneira horizontal politizar a rebeldia já existente na juventude; e são essas práticas que nos inspiram e influenciam.
seu/sua palhaç@. O exército de palhaç@s talvez tenha sido essa outra faceta dentro da própria jornada de lutas, talvez a falta de prática que a maior parte de nós tinha enquanto palhaç@s impossibilitou com que desenvolvêssemos bem noss@s palhaç@s individualmente, mas de forma coletiva conseguimos explorar bastante a nossa existência enquanto palhaç@s.
Coletivamente posso analisar vários dos efeitos causados pelo exército de palhaç@s, primeiramente a surpresa por si só, como já mencionado anteriormente, além de diversas outras coisas, como as vezes em que o exército de palhaç@s amenizou o clima de algumas manifestações que estavam um tanto quanto tensas, a própria ironia para com a polícia, que mesmo não estando ali para combatermos diretamente a ela, a entendíamos como braço repressor do estado que tentávamos pressionar, logo ela é nossa inimiga. A ironia muitas vezes funciona melhor do que qualquer pedrada, o orgulho deles foi um tanto afetado por aquel@s que estavam ali dispostos a enfrenta-los sem nenhum poder de fogo. Também vale mencionar que o exército de palhaç@s por si só, enquanto coletivo se tornou um personagem do imaginário criado em cima daquela jornada de lutas.
Sobre nossas influências fica difícil delineá-las de forma clara, por sermos um grupo de jovens e em sua maioria de formação política e cultural anti-capitalista, autônoma, abaixo e a esquerda, poderia citar várias prováveis influências mas sem a menor ambição de querer nomear ou conceituar aquilo que foi feito pelo ERIP, inclusive por que não considero isso necessário, de conceituar aquilo que fizemos, pois isso restringiria a discussão sobre nossas influências que considero um tanto quanto vastas e variadas. Pra começar a falar sobre nossas influências teria que primeiramente dizer que consensualmente no grupo não existe uma linha que separe política de arte/cultura, que essa linha e distinção é normalmente dada pelos meios de produção da máquina capitalista. Que não só não fazíamos essa distinção como éramos pessoas com a particularidade de termos uma afinidade com esse tipo de atuação político-artístico-cultural. Para isso poderia dizer que grande parte do que nos inspirou em nossas leituras e aprendizados e nos deu sede de por em prática foram as histórias de grupos inerentemente jovens que atacaram a lógica social principalmente por vias culturais, aliás é interessante que essa forma de ataque já é um traço cultural da juventude, em seus questionamentos políticos, vários dos movimentos jovens anti-capitalistas autônomos de contestação surgem de maneira que não se pode traçar uma linha que divida a atuação política da atuação artística/cultural, para isso podemos citar os provos holandeses, o punk, em sua vertente mais politizada e séria, os squatters (ou kraakers .BZs, okupas), o classwar nos anos 80 na inglaterra, O CIRCA (Clandestine Insurgent Rebel Clown Army-Exército Clandestino,Insurgente e rebelde de Palhaç@s ) entre tantos outros. Para tantos grupos podemos observar inúmeras diferenças e particularidades, mas certas coisas são observadas em todos, como ousadia, a criatividade como arma e ao mesmo tempo como “tentativa e erro”, ou seja acaba que as análises serão diversas, por diferentes e distantes óticas, mas que independente das nomeações ou mesmo das conceituações sempre identificaremos práticas em comum nesses movimentos, que buscam de maneira horizontal politizar a rebeldia já existente na juventude; e são essas práticas que nos inspiram e influenciam.
Sobre a Tentativa frustrada do ERIP ter tentado se tornar
um grupo organizado e linear e algumas conclusões
um grupo organizado e linear e algumas conclusões
Posteriormente a jornada de lutas tentamos nos organizar enquanto um grupo a parte do MPL, o que teve seus lados positivos mas de certa forma faço uma avaliação negativa disso, primeiro por que olhando pra trás vejo que o ERIP surge de nossa espontaneidade e criatividade para lidarmos com algumas armadilhas que preparavam pra nós, percebendo isso, percebo também que muitas vezes em meio aos movimentos autônomos temos uma certa tendência a problematizar a espontaneidade e o agir esporadicamente sem analisar de maneira precisa cada caso pra que as vezes entendamos que nem sempre isso é algo ruim e muitas vezes é sim,algo extremamente útil e estratégico.
Acho hoje em dia que o ERIP deva se manter como era inicialmente, algo atemporal, espontâneo ,criativo e adepto da surpresa, que surja e desapareça sempre que for necessária sua nobre presença em meio a tantas lutas contra tantas injustiças das quais ainda há disposição naquelas peles e rostos coloridos. Esse texto possivelmente é um tanto quanto romantizado, mas não há como não ser romântico quando olho pra trás e vejo uma das épocas mais belas de minha vida, queria encerrar dizendo que o ERIP pra mim não morreu, apenas tira um cochilo, como um/uma bom/boa palhaç@, bohemix e preguiçosx, pra mim o ERIP sempre existirá enquanto houverem pessoas que além de entender a utilidade estratégica desse tipo de intervenção, acreditam de coração nisso e estarão dispostas a por roupas coloridas, narizes vermelhos e enfrentar a brutalidade com palhaçadas. Por um clownismo radical, vivo, ativo e espontâneo.
Acho hoje em dia que o ERIP deva se manter como era inicialmente, algo atemporal, espontâneo ,criativo e adepto da surpresa, que surja e desapareça sempre que for necessária sua nobre presença em meio a tantas lutas contra tantas injustiças das quais ainda há disposição naquelas peles e rostos coloridos. Esse texto possivelmente é um tanto quanto romantizado, mas não há como não ser romântico quando olho pra trás e vejo uma das épocas mais belas de minha vida, queria encerrar dizendo que o ERIP pra mim não morreu, apenas tira um cochilo, como um/uma bom/boa palhaç@, bohemix e preguiçosx, pra mim o ERIP sempre existirá enquanto houverem pessoas que além de entender a utilidade estratégica desse tipo de intervenção, acreditam de coração nisso e estarão dispostas a por roupas coloridas, narizes vermelhos e enfrentar a brutalidade com palhaçadas. Por um clownismo radical, vivo, ativo e espontâneo.
pOr: Grosseiro Grosseiria Estabanância
Um comentário:
poxa o unico exercito q realmente valeu a pena estar do lado... e isso :/
sem atos, sem ligaçoes, sem movimentos...
agente mostra nossa insatisfazao e desiste... uma pena...
espero sinceramente q o erip vire um grupo como o krap ou o map e que se torne algo grande.
beijos para todos.
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